sábado, 2 de outubro de 2010

O DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO

Não ha nada mais fascinante do que observar e participar do crescimento e desenvolvimento das crianças. É um privilégio acompanhar uma criança desde seu primeiro dia de vida - imatura, totalmente dependente, indefesa, e vê-la, gradativamente, desempenhando atividades cada vez mais complexas e assumindo responsabilidades crescentes. Um dia, estava em uma festa quando um senhor, elegantemente vestido, que me perguntou: "Tio! Você não está me reconhecendo? Eu sou o Valtinho". O Valtinho, aquele menininho que morava no mesmo prédio do que, no Rio, havia se transformado num dos mais competentes embaixadores do país. E o Marcos? O terror do prédio, o mais levado guri que conheci, que deixava a Dionée enlouquecida e que, por seus méritos, se tornou presidente de uma bolsa de valores. E o Pedrinho ? Hoje advogado de uma grande multinacional, E o Miguel? Aquele ratinho, que nasceu nos idos de 50 com 1.300 gramas, o que me obrigou a examiná-lo, em casa, todos os dias, durante um mês, que se tornou campeão de equitação. O "Chorão"? Campeão mundial de vela! O Pedro Bodin, famoso economista brasileiro. O Juan? Um grande geneticista. A Katia e a Gisele, um pouco responsáveis pela minha perda capilar, que tanto trabalho me deram, hoje são lindas senhoras. "Antonio Marcio, hoje estou fazendo quinze anos e não poderia deixar de lembrar-me de você. Obrigado" telefonou-me Gisele, do Rio para Brasília, depois de oito anos sem vê-la. "Dr. Lisbôa, o senhor se lembra de mim? Eu sou a Kátia. Sou aeromoça. Estou telefonando-lhe para agradecer tudo que fez por mim". A Kátia, com alguns dias de vida foi submetida a várias cirurgias, teve uma grave pneumonia, obrigou-me a montar uma UTI em sua casa. Havia se tornado aeromoça. E as "cocadinhas"? Hoje executivas, socialites, cidadãs úteis ao nosso país, mães, e até avós e bisavós. Iniciei como "tio", e hoje já tenho "bisnetos". Sem dúvida que um dos maiores sustos que levei foi ao ser chamado de “vovô”, por um garotinho. Vocês vão me chamar de saudosista. Sim, sou saudosista, e cada vez que vejo o nome de um dos meus "sobrinhos e sobrinhas" nos jornais, eu babo de emoção, e concluo que eu só poderia ter sido pediatra. Costumo transcrever as coisas boas que leio, pois acho que temos a obrigação de divulgá-las. Aqui vai um trecho sobre crescimento e desenvolvimento, do livro do mestre Benjamim Spock: "A princípio você pensa que se trata somente de uma questão de crescimento em tamanho. Depois, quando começa a fazer coisas, você pode pensar que esteja "aprendendo habilidades". Mas, na verdade, trata-se de coisas mais complicadas e significativas. Cada criança, à medida que se desenvolve, reconstitui toda a evolução física da humanidade. O bebê começa na útero como uma única célula, minúscula, exatamente como o primeiro ser vivo que apareceu no oceano. Semanas depois, quando está no líquido amniótico, possui guelras como um peixe. No fim do seu primeiro ano de vida, quando aprende a engatinhar está celebrando o período de há milhões de anos, quando os ancestrais do homem andavam de quatro. A criança, depois dos seis anos, renuncia parte de sua dependência em relação aos pais. Está provavelmente revivendo a fase da evolução humana em que nossos bárbaros ancestrais acharam melhor conviver em grandes comunidades, do que vaguear nas florestas, em grupos familiares independentes. Nessa ocasião tiveram que aprender a controlar, a cooperar mutuamente, segundo regras e leis, ao invés de ficarem na dependência do mais velho da família, para os dirigir em toda parte". Muitas vezes eu, com sessenta anos de prática pediátrica, me questiono: "Como uma célula tão minúscula pode dar origem a tudo isso?". São os milagres da natureza!

BRASILIA – CAPITAL DA ESPERANÇA

Decidimos que seria interessante que vocês soubessem da situação da violência em Brasília. A Capital do pais, possuidora de um dos melhores índices de qualidade de vida; de um dos mais altos índices de renda; a policia é a mais bem remunerada. bem equipadas a escolaridade é alta; a assistência à saúde ainda que não seja a necessária pode ser considerada boa.
Apesar de tudo, a violência. O uso de drgas e a corrupção veem crescendo de forma assustadora. Os planos de combate a violência, de ordem repressiva e punitiva, não teem dado nenhum resultado.
Vamos relatar alguns acontecimentos desta semana. Tres mortos e quatro feridos em chacina em Planaltina, cidade satélite de Brasilia. Seis bandidos armados e encapuzados chegaram a um bar e fuzilaram as vítimas.

COMO DISCIPLINAR MEU FILHO SEM USAR A PALMADA

Boa pergunta. Como premissa disciplinar não é castigar. A disciplina é indispensável, pois irá permitir que a criança tenha um comportamento socialmente aceitavel, aprendendo os seu direitos e o dos outros e os limites entre eles. As punições constituem um dos meios utilizados para se conseguir disciplinar. Poderíamos dizer que, infelizmente, são um mal necessário. Se as admoestações, os avisos e as ordens são desobedecidas, muitas vezes impõe-se a punição, preço a ser pago pela criança. Muita gente confunde punição com castigo corporal, que deve ser evitado, por poder interferir no desenvolvimento físico, social e principalmente emocional da criança.
Baumrind, 1973, avaliou o comportamento dos pais em relação aos filhos em quatro aspectos: controle, exigências de maturidade, clareza de comunicação e dedicação. Os pais de filhos maduros e competentes marcaram pontos altos nas quatro dimensões. À combinação do controle dos pais, disciplina indutiva e encorajamento positivo dos esforços autônomos e independentes das crianças, denominou de pais com autoridade Chamou de autoritários os pais que confiavam mais na imposição do poder, usavam uma disciplina coerciva, eram menos amorosos, delicados e afetuosos, altamente controladores e usavam livremente o poder, não encorajando os filhos a discordar de suas proposições. As crianças menos maduras tinham pais permissivos, não-controladores, não-exigentes, afetuosos e despreocupados com a disciplina de seus filhos. As crianças que tinham pais com autoridade desenvolviam um tipo de disciplina indutiva , levando em conta o ponto de vista dos filhos que participavam das decisões e discutiam as regras, influenciando as interações do grupo familiar; essas crianças são mais obedientes e socialmente abertas . Os pais autoritários muitas vezes enfrentam problemas difíceis no relacionamento com seus filhos, pois se negam ao diálogo e impõem sua palavra como lei, exigindo obediência inquestionável no cumprimento de suas ordens. Vocês já viram um pai exigir que uma criança de um ano e meio cale a boca? Ou pare de chorar? Se leva um tabefe de um filho de dois anos, revida para "que ele aprenda a não bater em seu pai". Por sua vez, os pais permissivos cedem sempre, pagando um ônus elevado pela imaturidade e indisciplina de seus filhos. Muitas vezes tentam-se justificar dizendo: "não quero que meu filho tenha raiva de mim quando crescer", ou senão "meu pai zangava muito comigo e eu quero educar meu filho de forma diferente". Estes são os que emprestam carros aos filhos adolescentes, inabilitados, e preferem que eles matem ou morram por serem incapazes de explicar-lhes porque não podem dirigir, e ainda se justificam colocando a culpa nos filhos. Quando a mãe se queixa de que "meu marido deixa toda a parte de disciplina para mim, mesmo quando está em casa". Por outro lado, a mãe "boazinha", espera o marido chegar para que ele assuma o seu papel disciplinador, que, na verdade, é de ambos. Estão errados os pais permissivos pois os psiquiatras e psicólogos estão cansados de saber, e de atender, crianças que não amam os pais que se mantêm à distância e não disciplinam.
Em resumo, os pais autoritários e os permissivos têm dificuldade em manejar seus filhos. Os primeiros poderão tornar seus filhos violentos ou, ao contrário, passivos, ao utilizarem repetidamente ameaças, punições, castigos físicos. Os segundos, por perderem parcial ou totalmente o controle de seus filhos, deixando seus filhos muitas vezes confusos e inseguros, culpando seus pais pelo mau desempenho social. O correto seria educar com autoridade.
Então, não podemos punir nossos filhos? Claro que sim. Se toda explicação, persuasão, diálogo e outras medidas falharem a criança deve ser punida. A punição obedece a alguns princípios: deve ser imediatamente antes ou após o ato que se queira proibir; deve ser branda (as severas podem inibir temperamentos desejáveis, pois podem geram insegurança ou medo); deve ser coerente e explicada à criança com calma, firmeza e principalmente clareza, para que ela compreenda porque está sendo punida; os castigo físicos devem ser abolidos. As proibições e punições são mais eficientes quando o adulto usa a disciplina indutiva, ou seja, explica à criança a lógica e a razão de elas estarem sendo utilizadas, o que torna mais provável a mudança do comportamento que se deseja modificar.
O grande problema potencial das punições é que as crianças aprendem a imitar o comportamento dos pais , utilizando os mesmos procedimentos punitivos para corrigir seus filhos, perpetuando atitudes condenáveis como as surras e espancamentos. Por este meio, transferem-se os maus tratos de uma geração a outra. Os papeis que a criança irá desempenhar na sociedade precisam a ela serem ensinados por quem dela cuide com amor, amizade , lealdade e autoridade.

A PALMADA ENSINA ALGUMA COUSA?

As palmadas, as surras, as ameaças, ensinam? Como não? Mas não o que os adultos esperam. Segundo a psicóloga Lidia Aratangy, uma criança, ao apanhar dos pais, aprende: a ser agressiva - pode achar que bater nos outros é uma forma válida de resolver seus problemas; a ser cínica - com o repetir das surras, desenvolve a capacidade de apanhar sem reagir ou de se sentir humilhada; a ser mentirosa - aprende a mentir para fugir do confronto e evitar a dor; a ser covarde - pois o fugir da dor pode-se tornar um dos mais importantes objetivos da sua vida.
O castigo físico provoca na criança reações as mais diversas. A mais comum, semelhante a dos adultos, é um sentimento de ódio contra o agressor. As surras repetidas e o sentimento de impotência marcam profundamente as crianças que esperarão a época oportuna para se vingarem, utilizando, para isso, o aprendizado recebido. Sabemos que 48% das violências praticadas contra as crianças são de origem doméstica, ou seja, ocorrem dentro de sua casa, lugar onde esperariam receber carinho e proteção. Aprendem a viver e conviver com a brutalidade e agredir qualquer tipo de autoridade. Como já lhes disse a criança com menos de seis anos não esquece e poderá reproduzir futuramente o aprendido, tornando-se mais um a engrossar a onda de violência e criminalidade. Pais agressores criam filhos agressores, perpetuando o ciclo da violência.
Em vez de tornar a criança agressiva, os castigos físicos podem torná-la o contrário - submissa, tímida, amedrontada, sem iniciativa , vendo, nos outros, os pais que poderão castigá-la a qualquer momento e aceitando sem discussão as imposições de outras pessoas. Infelizmente essas características, tal como as do temperamento violento podem-se perpetuar na vida adulta.
A agressividade tem seu aspeto positivo. É ela uma forma de energia que permite ao indivíduo lutar pelos seus ideais, combater as injustiças, progredir na vida, enfim, crescer como cidadão. Não podemos permitir que essa energia seja destruída ou canalizada para a violência.
Quando as punições são excessivas as consequências dependerão da carga genética da criança, sendo impossível a previsão do comportamento na idade adulta. Cada criança tem sua própria individualidade. Quando nasce, já traz consigo a capacidade de amar, odiar, agredir, respeitar. A disposição para o amor ou para o ódio é extremamente influenciada pelo meio em que vive, principalmente o familiar. castigo físico O
Um outro ponto importante que poderá parecer divergente do que apresentamos mas não o é, está relacionada com as ameaças de castigo. Se um pai diz ao seu filho para não tomar determinada atitude senão levará uma palmada ou outro tipo de punição, deverá sempre cumprir o prometido. Caso contrário, haverá um grande desgaste de sua autoridade. Repetidas as ameaças e não cumpridas, a criança passará a não acreditar que possa ser punida por qualquer tipo de comportamento errado. Essa situação é extremamente comum e prejudicial para o aprendizado, pela criança, das normas e regulamentos que irão regular a sua conduta, ou seja, a disciplina. Por esse e outros motivos, que devemos retirar dos castigos as palmadas, tapas ou surras pois seria penoso cumprirmos o prometidoA disciplina precisa e deve ser ensinada por intermédio do diálogo, do bom-senso, da justiça , da sabedoria , do equilíbrio , sem necessidade de se apelar para os castigos físicos. Os pais amigos são os melhores disciplinadores.

A PALMADA

" A palmada faz mal?". Pergunta freqüente nos consultórios e, infelizmente, dirigida no sentido de justificar uma agressão praticada contra uma criança . A palmada é usada com finalidades "educativas". Apoiando a sua utilização com essa suposta finalidade, os pais, ou responsáveis, se justificam com algumas explicações padrões do tipo: "meu pai sempre me bateu e eu agradeço a ele, pois sou trabalhador e macho" ; "uma palmadinha nunca faz mal"; "quero que meu filho seja um homem inteiro, um bom cidadão"; "comigo é assim, escreveu não leu, o pau comeu"; "a palmada na minha família é uma tradição : meu pai apanhou, eu apanhei e meu filho também apanha"; "mentiu para mim , eu bato"; "não admito que meu filho diga palavrão algum"; "não venham com esta psicologia moderna de que não se pode bater em criança"; "este médico não tem nada a ver com a educação de meu filho, eu é que sei o que é bom para ele"; eu sou o responsável pelo meu filho e não admito que ninguém opine sobre o que eu faço"; "uma surra bem aplicada, no momento adequado, vale mais que mil compêndios de psicologia e pedagogia"....e a criança segue apanhando até que atinja a adolescência, quando enfrenta, ou foge do agressor.
Os pais que batem e os que condenam qualquer tipo de violência em geral tentam, por caminhos opostos, fazer do filho um bom cidadão. Os primeiros, utilizando métodos de uma época em que o castigos e o medo, como ferramenta educacional, eram considerados mais eficazes do que o amor. Hoje sabemos que palmadas , brigas e ameaças não mais são justificáveis. Entretanto, parte ponderável dos pais ainda as consideram válidas.
Muitos acham que não se consegue que a criança seja disciplinada sem apelar para as palmadas, como outros acreditam que disciplina e carinho sejam antagônicos. Não é verdade. A criança deve ser educada com energia e carinho a ter disciplina, o que é perfeitamente possível desde que se substituam as palmadas pela compreensão e pelo diálogo e, eventualmente, pela punição, quando a palmada, na melhor das hipóteses, terá um lugar bastante restrito. A boa disciplina é adquirida com facilidade quando a criança cresce numa família onde aprende a amar e ser amada. Não podemos nos esquecer de que as crianças têm um grande espírito de imitação, o que faz com que elas desejem parecer, tanto quanto possível, com os pais. Pais agressores ou compreensivos, com freqüência, têm filhos com o mesmo tipo de comportamento.
As crianças, desde o nascimento até aos seis anos, estão sendo submetidas a uma espécie de modelagem de sua personalidade: tudo que fizermos de bom ou de ruim será impresso nelas, de forma mais ou menos marcante, dependendo da intensidade do estímulo. Punir para educar não significa bater.
O que desejam as pessoas, em especial os pais, quando batem nas crianças? Sem dúvida que, na maioria das vezes, desejam ensinar-lhes alguma cousa que contribua para que elas tenham uma melhor formação como cidadão, mais freqüentemente restringindo ou proibindo comportamentos que violam o que consideram o ideal, por meio de surras ou palmadas. Não digo sempre porque, infelizmente, ainda se castiga por pura maldade, sem nenhum objetivo a não ser a de vê-las sofrer.
Os impulsos agressivos das crianças ocorrem praticamente desde o nascimento quando, pelo choro, pode-se reconhecer seus momentos de raiva e frustração. Aumentam lenta e progressivamente e, aos 2 ou 3 anos, atingem um nível que provoca a reação dos pais que, para restringi-los ou controlá-los, lançam mão de uma das seguintes técnicas disciplinares: afirmação do poder, técnicas indutivas ou retirada do amor. As palmadas e outras punições físicas ou morais, a privação de privilégios e os gritos estão incluídos no primeiro grupo. São respaldados pela força e tamanho dos pais e no controle das cousas que a criança quer. Os que utilizam as técnicas indutivas buscam fazer as crianças compreenderem a conseqüência de suas ações, usam o diálogo para corrigir os presumíveis desvios de comportamento, utilizam os reforços positivos elogios e recompensas; estão baseadas no bom relacionamento dos pais com os filhos e na capacidade de a criança de compreender o que os pais explicam. A retirada do amor inclui o que nome indica, além de envergonhar, decepcionar, desprezar ou isolar a criança; uma das piores formas de punição, que nunca deveria ser usada, é aquela que a mãe ameaça o filho dizendo que vai embora, que vai deixar de gostar dele, que nunca mais quer vê-lo. Como vocês puderam ver, as técnicas são usadas isoladamente, ou de forma combinada.
A palmada é, pois, utilizada quando existe um conflito de autoridade em que o mais forte, o mais velho, o mais maduro usa-a para demonstrar quem manda. Ou seja, olha para a criança e diz "faça o que eu acho certo ou vai apanhar". E se existissem gigantes e fizessem isso conosco? Será que acharíamos correto? Nem todos são contra a palmada. Existem defensores, que dizem que ela deve ser aplicada quando existe um bom motivo , na hora indicada, no lugar apropriado, que dizem ser gordinho para recebê-la, com parcimônia e efeito mais moral do que doloroso. E essa "palmadinha", largamente utilizada, se enquadra nestas especificações? Claro que não. Que respondam as crianças. O motivo principal é o cansaço ou irritação dos pais que , não agüentando mais, batem nos filhos. A criança diz um palavrão e todos felizes riem e mandam até repeti-lo. No outro dia repete, esperando a recompensa, e lá vem uma palmada no traseiro, acompanhada de gritos moralistas das mesmas pessoas. Na hora indicada? Muitas vezes, não. Quem já não ouviu a frase "se você continuar fazendo isto vou contar ao seu pai e, quando ele, chegar vai-lhe bater". Horas depois, a criança está brincando com um carrinho, leva a maior paulada. Não conseguirá associar nunca a palmada com o malfeito e, sim, com o que estava fazendo com o carrinho. Se não tiver outro jeito, palmada é do tipo fez, ganhou. Na hora. Com parcimônia ou seja, utilizada uma vez por ano ou, no máximo, a cada seis meses. As palmadas dadas uma ou mais vezes todos os dias, além de perder o caráter educativo, são ineficazes, pois perdem qualquer tipo de efeito tanto físico quanto moral. Existem crianças que riem ou ridicularizam as palmadas. A intensidade da palmada não corresponde à gravidade da falta. Muitas vezes é dada com raiva e para valer. Depende do estado de espírito dos pais. Nela, o adulto descarrega sua agressividade, sua raiva da família, do trabalho, do mundo, de tudo. A criança sofre; em compensação, o agressor, na maioria das vezes, se sente melhor. Nem todos, porém, pois existem os que batem e depois se remoem de remorsos e, até mesmo, se desculpam dizendo que erraram , que não vão fazer mais aquilo, etc. Embora o traseiro seja o sítio preferencial, a palmada é dada tambem em outros locais, inclusive no rosto, que é o cúmulo da degradação.
Palmadas, surras, ameaças, não justificam o propósito primeiro e nobre de educar. A obediência é um meio e, não, um fim. Revelam, na maioria das vezes, uma visão muito restrita dos pais em relação ao mundo dos filhos e um desejo, consciente ou não, de afirmarem sua autoridade em detrimento das necessidades emocionais de seus filhos. Temos de disciplinar nossos filhos. O permissivismo é ruim como técnica educacional. Todos temos limites e nossos filhos têm de aprender isto, que lhes irá poupar muitas angústias e sofrimentos. Os pais afetuosos e receptivos conseguem transmitir com mais facilidade, aos filhos, seus valores, sem perda da autoridade, e conservando uma das cousas mais importantes, a amizade que deve reger o relacionamento entre eles.

PROGRAMAS QUE DEVERIAM SER IMPLANTADOS

Para prevenir a formação de comportamentos anti-sociais deveriam ser implantados os seguintes programas:
PATERNIDADE RESPONSÁVEL - A criança não desejada não será amada. A criança que não é amada, não saberá amar. Será uma forte candidata a distúrbios de conduta e à delinqüência. Programa a ser desenvolvido pelo Ministério da Saúde.
FAMÍLIAS PARA TODAS AS CRIANÇAS - A privação materna e a violência doméstica são as causas mais importantes na gênese de comportamentos delinqüentes. Assim sendo, cabe ao governo a iniciativa de conseguir que todas as crianças tenham famílias e de acelerar o processo de adoção. Psicólogos e pediatras estão cientes da importância da presença materna para a boa saúde mental das crianças. A ser desenvolvido pelas Secretarias de Serviço Social.
LARES SUBSTITUTOS - Crianças vítimas de violência doméstica deverão ser colocadas em lares substitutos. A violência doméstica é a segunda causa em importância na geração da delinqüência A ser desenvolvido pelas Secretarias de Serviço Social.
ENSINO PELAS FAMÍLIAS E PROFESSORES DE DISCIPLINA, LIMITES, VALORES - Disciplina, limites e valores, como honestidade, lealdade, amor ao próximo, caridade, igualdade, não são congênitos. São ensinados pelos pais, familiares e professores. A conscientização das famílias, dos educadores, dos profissionais da área da saúde, da própria sociedade da importância desse ensino é de fundamental importância na formação de personalidades sadias. A ser desenvovido pelos Ministérios da Educação e da Saúde.
PROMOÇÃO DA AUTO-ESTIMA. - A maioria dos menores internados nos centros de ressocialização tem uma baixa auto-estima. E é tão fácil sua promoção, no seio da família e nas escolas. Elogios, prêmios, recompensas, elevam a auto-estima. Críticas e castigos destroem-na. A ser desenvovido pelos Ministérios da Educação e da Justiça.
EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA.- Ensinava-se, em casa e nas escolas, a respeitar os pais, professores, os mais velhos, as crianças, as pessoas, a pátria, a bandeira nacional. Cantava-se o Hino Nacional, comemorava-se o Dia da Bandeira, da Independência, do aniversário do colégio. A ser desenvolvido pelo Ministério da Educação.
PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL.- Conscientizar as pessoas da importância do apego, da atenção, do amor, da segurança, da boa convivência familiar, do exemplo dos pais na formação de uma boa saúde mental, de uma personalidade forte, sadia, e na prevenção dos comportamentos anti-sociais. Usar para isso os meios de comunicação. A ser desenvolvido pelos Ministérios da Saúde e da Educação.
CENTROS INTEGRADOS DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL (CIDI).- Criar os CIDIs, instituições encarregadas de supervisionar a saúde física, mental, emocional e social das crianças de menos de seis anos (creche e pré-escola), com a participação ativa das famílias na administração e manutenção das unidades. A ser desenvolvido pelos Ministérios da Saúde e Educação.
CENTROS DE APOIO PSICOLÓGICO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES - Criar serviços de atendimento psicológico, para onde seriam encaminhados as crianças e adolescentes ao serem constatar os primeiros sinais de desvios de conduta. Ministérios da Saúde e Educação.
CENTROS EDUCACIONAIS PARA INFRATORES COM DESVIOS LEVES DE CONDUTA .- As crianças e os adolescentes que cometessem infrações leves seriam enviadas para centros educacionais, onde não existiriam grades, mas que contariam com professores, psicólogos, psiquiatras, pediatras. A ser desenvolvido pelos Ministérios da Educação, Saúde, Justiça, Trabalho.
CENTROS DE REINTEGRAÇÃO SOCIAL PARA INFRATORES COM GRAVES DESVIOS DE CONDUTA.- Este tipo de unidade seria denominada UTI Social, para indivíduos que roubam de forma contumaz, estupradores, homicidas, incendiários, traficantes, contrabandistas. Deveriam contar com médicos, educadores, psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas, praxiterapeutas, e pessoal de segurança, especializados. A ser desenvolvido pelos Ministérios da Justiça, Educação, Saúde, Trabalho.
CONSIDERAÇÕES - A violência é uma doença psicossocial. Não é causa e sim, na maioria das vezes, conseqüência da ação de indivíduos portadores de sérios distúrbios comportamentais, derivados, principalmente, de transtornos afetivos graves com suas raízes na primeira infância. A semente da violência é implantada na criança em seus primeiros anos de vida. A prevenção dos distúrbios de conduta que levam à violência, à delinqüência, é atribuição da família, dos educadores, dos pediatras, dos psicólogos, dos assistentes sociais. Sem prevenção a violência continuará aumentando e caminharemos para o caos social. Prevenir a violência é uma questão de cidadania que começa com o respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes estabelecidos em nossa Constituição Federal.

CAUSAS DO COMPORTAMENTO ANTISOCIAL

Há mais de um século são formuladas as mesmas propostas para diminuir a violência - punir e prender - e os resultados são cada vez piores. Antes, havia uma polícia, depois, duas, três, quatro. Agora, cada edifício, cada instituição, cada empresa contrata sua própria polícia. Cada pessoa tenta construir sua fortaleza particular. E o resultado dessas providências é que todos estão reféns do medo. A população vive enjaulada. E os bandidos... à espreita.
Dizer que desigualdade social, pobreza, armas de fogo, por si só, sejam causas determinantes da violência, é pura balela. Atrás de cada criminoso existe, quase sempre, uma personalidade doentia, principal responsável pela situação de violência em que vivemos.
Qualquer pediatra ou psicólogo, mesmo os menos preparados, sabe que o temperamento violento pode ser herdado ou adquirido. A herança pode ser responsabilizada por um pequeno contingente de indivíduos com comportamento anti-social, ou doentes mentais, atribuindo-se aos fatores ambientais que atuam sobre indivíduos suscetíveis, a maioria crianças, a maior responsabilidade.
Esses profissionais aceitam que, até 3 anos, ou no máximo 6, a criança tenha estruturado sua personalidade, por já ter passado por vivências suficientes para isso. A falta do aprendizado de valores, limites, disciplina, a baixa auto-estima, os maus-tratos e a privação materna são os fatores que mais contribuem para a formação de comportamentos anti-sociais e, conseqüentemente, para o aumento da delinqüência. Na origem da delinqüência e da criminalidade juvenil encontra-se uma personalidade instável ou perversa, mais raramente um distúrbio mental.COMO PREVENIR? - As seguintes ações ou medidas são indispensáveis para prevenir os comportamentos anti-sociais, a delinqüência, a violência: paternidade responsável, apego, boa convivência familiar (amor, atenção, segurança), bom exemplo dos pais; ensino da disciplina, dos limites e, principalmente dos valores, na família e nas escolas; promoção da auto-estima; prevenção da privação materna desde o nascimento (alojamento conjunto, internação conjunta em hospitais); promoção da adoção; prevenção da violência doméstica; cumprimento pelas autoridades, com absoluta prioridade, do que preceitua o artigo 227 da Constituição Federal.